Em mundo governado por protestantes, iríamos pintar o teto da Capela Sistina? - ou o dia em que falei em línguas.
Não posso começar este texto, sem antes explicar seu contexto. Este acredito, ser um dos mais infrutíferos, infantis e passionais: uma música. A música em questão Ressuscita-me interpretada por Aline Barros. Uma música que conheci em meu leito de hospital, que após alguns anos, por iniciativa de membros de nossa equipe de louvor, após ter sido devidamente analisada, foi inserida em nossas canções durante a liturgia.
Como qualquer objeto (música, obra de arte, mídia), em que o expectador não conhece o contexto real, este por sua vez tende assumir como contexto legítimo o primeiro contato que teve com o objeto. Por vezes, o pressuposto do expectador não comunga do pressuposto de uma maioria estabelecida, e se adotarmos como critério, o aspecto majoritário, é de se supor que ao expressar sua opinião divergente, este expectador poderá criar certo frisson.
Opiniões a parte, estas debatidas em meu perfil do Facebook (www.facebook.com/thiagobeamaral) me surpreendeu. Acostumado a postar esporadicamente vídeos musicais em meu perfil, incluindo algumas músicas seculares, percebi por parte de alguns o medo de se propagar essa música.
Agradeço pelo zelo, mas prefiro pensar diferente. Qual o papel que o expectador pode ter se é apresentada a ele a minha interpretação? O fato de determinado conteúdo estar, por mim, ou por sua origem, aliado a uma cultura reprovada e debatida, já forma uma interpretação que parte do pressuposto de que este conteúdo deve ser banido. Não pretendo entrar no mérito da canção, mas sim da questão – que trocadilho horrível: O aspecto assustador de não ser permitido pensar, contemplar, apreciar de maneira subjetiva nossa cultura (mais uma vez, me refiro a somente a música, artes, opiniões políticas, time de futebol e etc. creio que as Escrituras devem ser devidamente expostas através de um estudo exegético histórico-gramatical).
É assustador, enquanto assuntos ligados a nossa Teologia e Ética protestantes são imersos nos rios do interior de nosso país ou desafiados em um imponente desfile de bandeiras, uma simples canção seja capaz de alguma polêmica e até mesmo poder vir a rotular uma pessoa. Assusta como o medo nos faz vasculhar meandros de nosso padrão hermenêutico em toda nossa cultura. Como escrever uma música sem recorrer a alguma alegoria e conceder algumas licenças poéticas ao eu – lírico? (desde que estas não deturpem os ensinamentos Bíblicos) Talvez esse seja o argumento a ser questionado, mas neste aspecto, trata-se de uma alusão. Como a Bíblia, qualquer elemento, pode ser retirado de seu contexto ou inserido em um contexto conveniente ao leitor ou ouvinte.
Não é de se estranhar que algumas igrejas têm convidado novamente, os antigos palestrantes para tratar dos programas de televisão de nossos filhos e suas perigosas mensagens subliminares, municiados de imagens de desenhos e de jogos virtuais. Temo o rigor proibitivo e temerário capaz de atrofiar a espiritualidade madura e “anabolizar” o legalismo que abriga os cínicos e pune os duvidosos.
Sei que quando não me esforço em apreciar um objeto, reduzindo minha perspectiva a apenas aquilo que este contempla, posso de minhas inferências, emitir juízo de valor. Temo é o fato buscar normatizar meu juízo, demonizando o juízo alheio em um esforço de dogmatizar o meu.
Assim, temo que em um mundo fictício dominado por nós protestantes, seria capaz de lacrar museus, censurar as artes, banir a liberdade de culto, o estado laico e até mesmo ser capaz de pintar com tons sóbrios e frios o teto da capela sistina. Postura diferente da holandesa ainda no século XVII. Por fim, temo duas coisas. A primeira delas seria a de deixar de orientar para passar a pensar pela sociedade. Não concordo com tudo que há neste mundo, mas concordo em discordar, em ser questionado e criticado com relações as minhas opiniões.
A derradeira é de que meus amigos acreditem que ao pensar diferente deles, me tornei um inimigo a ser combatido, ou ignorado. Quem sabe pior: um péssimo pastor, que ao ouvir uma música começou a falar em línguas...
Em Cristo, Rev. Thiago Amaral.
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